sábado, 10 de maio de 2008

A crise alimentar

A crise alimentar mundial merece uma reflexão mais séria do que aquela a que assistimos à escala nacional ou mundial. Não basta atribuir as culpas aos biocombustíveis, imaginar que Portugal pode ser auto-suficiente, defender o proteccionismo europeu ou aproveitar a situação para obter ganhos eleitorais.
O aumento da produção de biocombustíveis é uma das causas do aumento dos preços mas não é a única, o aumento da procura por parte das economias emergentes tem igualmente peso neste aumento de preços. O crescimento económico de algumas economias (China, Rússia, Índia, Brasil), a desvalorização do dólar, a revalorização de algumas moedas (China), a quebra de produção (Austrália) e a redução dos excedentes comunitários são alguns dos factores que mais contribuíram para a escalada dos preços, que se tornou imparável numa situação em que os stocks são escassos.
Não basta culpar as reformas da PAC que resultaram na redução da produção europeia, os excedentes comunitários e as suas políticas proteccionistas do passado resultaram na perda de competitividade das agriculturas mais pobres.
De nada serve apelar à auto-suficiência nacional em cereais, Salazar também sonhou com isso, promoveu a campanha do trigo e os resultados são desastrosos. Portugal não dispõe de recursos em terras aráveis para produzir cereais aptos para o consumo humano em quantidade suficiente. Além disso, esse aumento de produção seria conseguido à custa de outras culturas mais rentáveis e adequadas a um bom uso dos solos.
Para a crise internacional não há solução à vista em termos imediatos, o aumento da produção de cereais não se consegue de um dia para o outro. A solução do problema nacional deve ser encontrada no quadro da Política Agrícola Comum, de nada valem os discursos nacionalistas ou do tipo “um passo em frente”. A PAC deve assegurar aos Estados-membros da EU a sua segurança alimentar assegurando preços razoáveis aos consumidores. As recentes reformas da PAC não foram neste sentido e os resultados estão à vista, os aumentos dos preços deixam os ministros da agricultura e os agricultores felizes mas poderão ter graves consequências sociais. Ao nível internacional a situação é bem mais grave, a actual produção é insuficiente para assegurar a alimentação da população mundial, este desequilíbrio só não é mais evidente porque uma boa parte da população vive numa situação de subnutrição. Com o aumento da população mundial e a melhoria das condições de vida nas economias emergentes a procura de alimentos crescerá a um ritmo superior à oferta. Dado que o aumento das terras aráveis é lento (1% ao ano) bem como o aumento da produtividade (1% ao ano), as instituições internacionais terão que investir em soluções que evitem uma crise alimentar muito grave a médio prazo.
Mas parece que quer os responsáveis nacionais, quer os líderes mundiais andam distraídos. (via jumento)

4 comentários:

Anónimo disse...

Hoje meia duzia de grandes investidores mundiais podem causar situa ções dramaticas devido à especulação a livre circulação de capitais deve continuar a existir, mas os governos tem de criar mecanismos de controlo para evitar que meia duzia de donos do mundo se comportem como tiranos fazendo sofrer milhoes de pessoas desnecessariamente, sem a especulação o problema tinha uma dimensão bem menor.

Anónimo disse...

Para alguns certamente o nome de Abbé Pierre não será totalmente desconhecido.
Foi o fundador dos "Companheiros de Emaús", que também já fazem sentir a sua acção em Portugal.
Nas suas discussões na Assembleia da República Francesa on de foi deputado, insurgindo-se contra os exploradores e contra as acções dos agricultores franceses que destruiam as sementes para aumentar o preço dos produtos...e onde se manifestava contra o facto de os povos produtores, por exemplo de algodão, não conseguirem, devido à especulação, comprar uma simples camisa com o produto da venda do algodão em bruto...
Pois contra tudo isto dizia Abbé Pierre: Ai dos ricos, quando os pobres concluirem que para eles morrerem de fome ou pela acção de uma bala não fará grande diferença...e se revoltarem contra os culpados da fome...!!!

Um dos grandes males do Mundo é o egoísmo...!!!

Um Bom Domingo para todos...!!!

Maximino

Anónimo disse...

Nos últimos meses, o preço dos bens alimentares tem vindo a aumentar nos mercados internacionais. Os responsáveis pelo Programa Alimentar Mundial consideram que está em curso um "tsunami silencioso" que penaliza os mais pobres.

Anónimo disse...

Por um lado, a subida em flecha dos preços do barril petróleo provocaram uma escalada do custo da produção de bens manufacturados mas também da própria produção agrícola devido ao transporte e ao trabalho dos tractores e outras alfaias agrícolas.

Os bens chamados matérias-primas subiram igualmente porque é necessário agricultá-los, colhê-los, transformá-los e transportá-los para os mercados e todas estas operações consomem energia cada vez mais cara, aumentando os preços dos bens de primeira necessidade como o leite e os cereais.

Além disso, a aposta nos biocombustíveis fez disparar o preço dos cereais e os mais atingidos por esta escassez de produtos de primeira necessidade e pela enorme elevação dos seus preços são os países mais pobres.