quinta-feira, 7 de janeiro de 2010

Contributo de um leitor

Os bancos andam com margens negativas em algumas actividades, nomeadamente no crédito à habitação. Ou seja, perdem dinheiro neste segmento. Ora, este segmento representa cerca de 40% do crédito bancário dos nossos bancos. O grave é que os bancos financiam-se a curto / médio prazo no estrangeiro para financiar financiamentos de muito longo prazo já efectuados a um preço muito baixo (spreads de 0,3% a 1% para os contratos anteriores a 2007 / 2008). Ora as renovações dos contratos dos bancos face a credores estrangeiros estão a sair cada vez mais caro, fazendo com que o prejuízo vá aumentando.

No entanto, e por agora, as operações em Angola e noutros segmentos (empresas, crédito pessoal e automóvel) vão compensando o desastre do crédito à habitação. Perante um cenário menos famoso nestes outros segmentos no futuro próximo, o que não é difícil de imaginar, podemos pensar que alguns limites pouco aceitáveis possam vir a ser atingidos pela nossa banca.

E é aqui que entra o presidente do BPI, Fernando Ulrich, com a sua vinda a público a revelar os dados do estudo elaborado pela sua equipa de economia, que não ponho dúvidas ser de excelente qualidade. E que dizem? Dizem que o défice público é de 80% do PIB, e que se adicionarmos as dívidas das Regiões Autónomas, Autarquias e as responsabilidades das parcerias público privadas (PPP) então a dívida pública total atinge 100%. E a tendência prevista não é nada famosa se não fizermos o que há a fazer.

Onde começa o problema? O problema começa quando os mercados internacionais vão sinalizando que confiam menos na economia Portuguesa e na sua capacidade de resolver o seu problema de dívida, seja através do crescimento económico, da redução da despesa ou no aumento dos impostos, ou ainda no efeito combinado de todos estes elementos. E onde isto nos leva? Leva-nos ao aumento dos spreads que os bancos têm que pagar na renovação dos empréstimos que têm que renovar, o que, combinado com o spread fixo do crédito à habitação que praticaram aos clientes resulta no aumento do prejuízo.

Porquê o BPI a preocupar-se publicamente? Porque, e ao que sei, é o banco com maior peso do crédito à habitação no volume total de crédito, e porque, ao que parece, é o que praticou margens de spreads menores neste segmento. Logo, é o banco que vê esta realidade adversa entrar pela casa dentro com maior voracidade.

Qual o objectivo de Fernando Ulrich com esta intervenção? O seu objectivo é condicionar o orçamento de estado nas suas componentes de despesa e de investimentos públicos, que, de facto, são perfeitamente desajustados da nossa realidade. Tudo com a finalidade de não ver os credores internacionais aumentarem o prémio de risco a Portugal e consequentemente o preço a que compra o dinheiro.

É racional a sua intervenção? Sim, é do mais racional que há, não só do ponto de vista da instituição que defende, como da banca em geral, e do interesse de todo o Portugal. Só uma meia dúzia de pessoas se apercebe o que se anda a passar. A grande maioria está toda a dormir.

Vale a pena ir ao site do BPI e ver o estudo (nomeadamente páginas 28 a 32). Diabólico acreditar que, do meu ponto de vista, na cabeça do presidente do BPI o cenário pessimista que lá está é o mais provável de ocorrer. Só um ingénuo não percebe que esse é o sinal que foi dado ao governo. Pede-se ao governo que governe. Se não o fizer então está dado o pontapé de saída oficial dos nossos problemas bancários.

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