O simples facto dos políticos falarem em democracia a torto e a direito, por tudo e por nada, é a prova que a democracia só existe nas suas bocas.
Hoje, nas Conversas Cruzadas, ficámos a saber como funcionam as concelhias dos partidos.
Ou são mandatadas, ou fora de prazo, ou não sufragadas, ou perpetuadas – ou então simplesmente não existem.
Nenhum partido está excluído destas práticas. E é nos partidos que as práticas não democraticas (e outras) encontram a sua rampa de lançamento.
O que se passa nas distritais e concelhias dos partidos portugueses toca as raias do absurdo e do inimaginável. Se a imprensa portuguesa desfrutasse da liberdade e independência suficiente para escancarar para a praça pública o que se passa lá dentro, talvez muitos fossem corridos à pedrada das estruturas partidárias pelas próprias populações. Todos sabemos que esta “nossa” democracia já não impera no seu modo de funcionamento, que as novas adesões obedecem a recrutamentos individuais bem seleccionados para fortalecer as posições deste e daquele e que a maioria dos militantes mais antigos, arredados de todas as discussões e debates, já só vão às assembleias arrastados pelos caciques que neles campeiam, muitas vezes em obrigação a pequenos favores que auferiram ou esperam ainda auferir.
Evidentemente que graças a 35 anos desta prática, temos a Assembleia da República que temos, incompetente, inútil, ineficaz. Na verdade, o Governo transformou-se em poder legislativo e executivo enquanto a Assembleia da República tem uma função decorativa que, quanto muito, permite algum espectáculo nas sessões plenárias. A introdução de qualquer alteração na escolha dos deputados irá naturalmente prejudicar as lideranças partidárias, e dificultar a distribuição de cadeiras.
Na verdade, a preocupação dos partidos políticos com a abstenção acaba no fecho das urnas no acto eleitoral.
Os partidos precisam de uma purga. A falta de base social de apoio dos partidos, que se traduz na variabilidade dos seus resultados eleitorais, leva a um comportamento essencialmente competitivo entre eles que enfraquece a democracia.
6 comentários:
Ficámos hoje a saber que todos os partidos, em Óbidos, não têm órgãos eleitos como devia ser. Já passaram todos os prazos dos mandatos. O PSD devia ter tido eleições há quase um ano e agora pensam fazê-las este ano. Os outros partidos ainda estão pior.
É verdade que há militantes do PSD que assinaram o papel sem saberem para o que era.
O Sr. Humberto descaiu-se a dizer que há 660 militantes em Óbidos do PSD, mas só votaram este ano 170.
Na Amoreira há quem garanta que não foram 170 pessoas votar. Como a mesa de voto era caseira, a chapelada de votos para a lista do Telmo/Barreiras Duarte foi enorme!
Esta afirmação de chapelada não pode ser verdadeira.
Na Assembleia em Amoreira, havia um delegado de cada lista e ambos eram pessoas que não se deixariam enganar...
Maximino
Renovação e gente nova - basta olharmos para os políticos que nos rodeiam e encontramos caras que nos perseguem há dezenas de anos. Aliás, por este andar, alguns, acabam por sair de muletas da política.
Os partidos políticos têm de acabar com “vícios antigos” e ganhar uma outra dinamica que os faça recuperar o seu espaço e a sua vitalidade. São necessários novos temas, novas reflexões e uma nova visão.
Renovar o sistema pela via da libertação dos representantes eleitos das grilhetas partidárias seria a saída para manter viva a democracia, hoje em dia seriamente ameaçadas pela influência crescente dos lobbies financeiros e empresariais nos partidos políticos, na quase generalizada transformação das campanhas eleitorais em campanhas de “marketing político” e no afastamento crescente dos cidadãos da política e da democracia, que apenas interessa aos lobbies que pela via dos partidos arregimentados por generosas “doações” e aos próprios partidos que se vão repartindo pelas estruturas do Estado enquanto se alternam nos governos.
Para a distrital de Lisboa o voto chegou aos 30 euros, em Óbidos é mais barato.Bastou uma carta (do Presidente da concelhia auto-suspenso) para a “mobilização”....
Não podemos deixar e reconhecer que os partidos são instituições essenciais à democracia, sendo esta impensável na sua ausência, resta-nos porém saber o quê e como fazer para ultrapassar as suas tendências fechadas e evitar que o povo seja tratado como um mero agente. A democracia deixa de ser uma forma de poder delegado pelo povo, para se converter numa forma do poder exercido pelos partidos e pelos políticos profissionais sobre o povo.
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