Em abono da verdade tenho que admitir que a educação cívica tem uma capacidade limitada. Comporta-se como um cobertor pequeno. Se por um lado parece que se ganhou numa maior atenção em não deitar lixo no chão, (apesar de muitos não respeitarem esta orientação cívica de comportamento, nomeadamente os forasteiros, que parece que na nossa terra tiram a barriga de misérias no que aufere a esta repressão) em compensação, desagradável, vemos que a aglomeração das populações eliminaram o contacto entre conhecidos e desconhecidos, que ainda se mantém entre nós nas aldeias mais recônditas, onde a saudação a um desconhecido jamais é negada, antes pelo contrário, aparece de modo espontâneo.
Tentando contemporizar também admito que se alguém, no meio de uma rua pejada de gente, ou num dos muitos supermercados, se decidisse cumprimentar a todos aqueles que lhe passassem por perto, ficaria com um retrato de doente mental. Mas, há sempre um más, menos no Brasil que seria um mais. Considero que nem oito nem oitenta.
A minha filha mora, desde que casou, na Suíça germânica. Por opção decidiram não residir no bulício da cidade, pois para usufruir dos benefícios que esta lhes podia dar tinham à disposição bons meios de transporte colectivo, daí que mantêm-se perto de Zurique, mas numa terra de origem rural e que, infelizmente, nos últimos anos caiu nos objectivos da especulação imobiliária e está aumentando de citadinos. Mesmo assim existem residentes quotidianos, aqueles que não adoptam a técnica da lançadeira para ir e voltar do trabalho, com os quais me cruzo na rua nos dias que por lá estou de visita. O facto de não falar a língua deles não lhes retira a educação ancestral de SEMPRE me cumprimentarem com o seu BOM DIA, que senti-me na obrigação de aprender para retribuir.
Não sou capaz de descrever a satisfação que receber este cumprimento me dá. É muito gratificante, pois mostra que retomamos a nossa identidade de ser humano, que não somos um cão ou um gato, bichos que precisamente tenho por hábito dirigir-lhes uma palavra quando me cruzo com eles, no intuito de mostrar que não tenho agressividade e espero a sua reciprocidade (a minha mulher opina que isso de dizer qualquer coisa a um animal é coisa de velho tonto. Deve ter razão. Mas eu mantenho-me na minha, como São Francisco)
Neste momento estou escrevendo na minha casa de Óbidos, com a porta aberta numa espécie de galeria, onde entram, ou não, alguns dos passantes, a maioria deles desconhecidos que raramente regressarão. Pois é mais fácil ser cumprimentado por estas pessoas do que pelas gentes que se dirigem à Câmara, sejam funcionários (que não sei se funcionam muito ou pouco, nem me interessa), ou por gentes que se dirijam aos departamentos onde necessitam ser atendidos.
Dos primeiros haverá muito poucos que não nos conheçam, nem que seja de nos verem, outros não engraçam connosco. Compreende-se, pois nunca somos bem vistos por todos, nem nós nem ninguém. Mas o comportamento geral é muito mais simples de avaliar. Sabendo que, devido a uma jogada demasiado habilidosa, temos um litígio judicial com a edilidade, e receando não sei bem o quê, pessoas que anteriormente não só nos cumprimentavam e até paravam para ter umas palavras de circunstância, passaram a se cruzar como se fossemos uma parede.
Ou seja, para estes o medo é de tal ordem de grandeza que se sobrepôs à singela educação, ou, como se diz em vernáculo, confundem o cu com as calças.
Bem hajam e passem bem.
Virella
2 comentários:
Pior que esse receio e jogo do medo é o pequeno poder instituído que certos funcionários têm na CM.
Cito um exemplo é normal e durante a hora de expediente vermos um certo funcionário de nome Luís a tratar de problemas da JF S. Pedro (promiscuidade não se sabe onde começa o funcionário e termina o eleito).
Outro caso de prepotência é uma certa senhora arquitecta que pelo facto de ser um quadro técnico da CM julga ter o direito de embirrar com documentos oficiais - exemplo: com as áreas dos terrenos e confrontações descritos nos Registos da Conservatória. Mas parece que moralmente está acima de qualquer suspeita porque consegui unir duas fracções do prédio onde habita sem a alteração da respectiva propriedade horizontal e consequente alteração do registo.
Obviamente que os políticos responsáveis pela CM têm conhecimento só que não estão minimamente interessados em chama-los à atenção para se cingirem a desempenhar o seu trabalho, bem pelo contrário até lhes dão mais protagonismo.
Pois eu...continuo "saloiamente" a dar o cumprimento normalmente a todos com quem me cruzo (inclusivé crianças, que também são gente...), mesmo que de estrangeiros se trate...e o sorriso com que normalmente sou obsequiado, prova-me que devo continuar "saloio" até à hora da morte...
E claro...nunca deixei de entrar na moradia/galeria para além do cumprimento, poder dar também um dedinho de conversa...!!!
Maximino
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