Por azar nosso o futebol deixou de ser visto como um desporto, no sentido mais humano do termo. Ou seja, é um espectáculo com base estritamente comercial, económica, que usa e abusa dos sentimentos mais imediatos das pessoas, incitando o fanatismo e a visão condicionada através do bombardeamento insistente dos meios de comunicação. Se podemos afirmar que ninguém é obrigado a seguir este tema, também devemos considerar que a intensidade das mensagens é de tal ordem que sempre existe um lapso de tempo, mesmo que seja breve, em que nos entra na mente.
Para mim o futebol é efectivamente um desporto a seguir quando é praticado por amadores, verdadeiros e não só fingidos, quase ao nível dos encontros entre solteiros e casados, ou de equipas de duas empresas que tem esta actividade nos tempos livres.
Mas as coisas são o que são e não vale a pena tentar afiar o lápis. Há uma hipótese, descabida, que me ocorre, para depois a utilizar mais adiante. Se visualizarmos um jogador de ténis que se treina apanhando bolas que uma máquina automática, robotizada, lhe manda, ou que bate bolas contra uma parede, não me parece que entusiasme o espectador. Outro exemplo seria o de um golfista treinar batendo bolas sem cessar desde o mesmo ponto, com o propósito de alcançar maiores distâncias ou afinar a pontaria. Qualquer destas situações não é muito excitante, pelo menos para conseguir manter atenta uma multidão.
Chegamos ao ponto de perceber como qualquer desporto que tenha adeptos de bancada carece de competição para cumprir o seu propósito. De outro modo mantêm-se no campo efectivo do amadorismo, e só consegue aumentar a adrenalina ao praticante ou a meia dúzia de carolas.
Com a vida política temos uma situação semelhante, embora com as suas próprias nuances. Além de outros pormenores muito importantes e que não esquecemos, as ditaduras caracterizam-se porque não aceitam críticas, diálogos, sugerências, reparos, opções. O seu pensar e as suas decisões são lei indiscutível e inatacável. Quando numa democracia pouco sedimentada acontece que uma facção consegue obter uma maioria absoluta, que abusivamente, mas com a lei do seu lado para consentir, lhe pode permitir o luxo de desprezar, ou dizendo mais leve, ignorar os opositores, então tem o caminho aberto para actuar como uma ditadura. Só o poder judicial a pode travar. Por isso há sempre tanto interesse em dominar todo tipo de tribunais.
Ora, o ter a oposição debaixo do tapete contraria a essência da democracia, e mais até quando as oposições baixam os braços, que não em teoria mas de facto, o que é bem pior. Abandonar o campo ao adversário, tal como acontece com a falta de comparência de uma equipa de futebol, dá a vitória ao que entra em campo, mesmo sem bater uma bola
Em Óbidos temos um caso digno de estudo numa faculdade de ciências políticas. Uma população que se mantêm indiferente ou que é facilmente catequizava, em consequência da sua descrença, ou por serem permeáveis às técnicas de aliciamento mais pueris. A esta apatia geral junta-se a apatia daquelas pessoas que se consideram mais educadas politicamente e que, quando dão mostras de serem críticos, ou descontentes, submetem-se ao egoísmo pessoal, ou a hipotéticos receios de represálias. Optam, quase todos, por serem opositores de café, e agora vai-se cada vez menos a estes locais de convívio. O que se vê não corresponde ao que dizem de viva voz.
Se fizermos um inventário do tema temos o seguinte panorama: O PCP só mostra, praticamente, a voz do Senhor Eugénio, que se mantêm firme na sua ideologia, o que não podemos criticar. O CDS- PP tem mantido uma janela de crítica, tenaz, com o Senhor Braz Teixeira, o qual neste momento parece que atravessa uma fase de desânimo que é compreensível. As pessoas é normal que se cansem de lutar isolados para desconhecidos que só se manifestam apoiando quase sempre anonimamente (esqueço propositadamente as manifestações em sentido contrário, que existiram)
E resta o PS local, que neste momento (um longo e penoso momento) sofre, por tabela, o desgaste que caiu sobre a governação do País, sob a batuta deste mesmo partido. Não parece que seja exclusivamente esta situação temporal que condiciona o Eng.º José Machado, (que não devemos esquecer que encabeçou a lista como independente, coisa pouco frequente) a se encontrar praticamente isolado no seu combate. Os poucos colaboradores que se mentem ao seu lado não lhe permitem fazer mais do muito que já faz.
Mesmo que incomode o executivo camarário com as argumentações bem fundamentadas com que frutifica o seu trabalho, na verdade observamos que, sempre que não se pisou o risco da legalidade, as suas palavras e requerimentos caem em saco roto. É lógico que isso aconteça quando não podem deixar de saber que não existe uma movimentação popular que apoie as suas palavras. O que é para admirar é que este homem bom, com bons princípios, ainda se mantenha decidido a lutar e não tenha entregue a sua aparente liderança aos filiados, deixado o terreno livre a quem foi colocado, legalmente, no comando.
Mais cruamente se possível. A população deste concelho não merece os esforços que o Sr. Machado, e também o Sr. Braz Teixeira, tem feito para desmascarar abusos e enormidades. Advogando no sentido oposto, e parafraseando um político nacional, os que estão, a gosto da população, podem dizer aquilo de “deixem-nos trabalhar”, e a fraca oposição pode optar em ir a banhos.
Passem bem e gozem os eventos, enquanto duram.
Virella
2 comentários:
Normalmente o partido que governa tem sempre algum desgaste, em Óbidos os partidos da oposição (principalmente o PS) tem o condão de capitalizar esse desgaste. Estar na oposição quando existe uma maioria provoca um longo calvário e convulsões internas. A AM, em vez de ser o centro de debate e o local para fiscalizar a câmara, em lugar de fiscalizar mais parece que a oposição é vigiada. O caso mais recente pretende-se com a questão do e-mail – é caso para questionar quem quis tramar o eng. Machado com o pedido de reenvio do e-mail para um jornal? Quanto ao PC a sua actuação é perfeitamente inócua - é mais para consumo interno gravita em torno da unicidade e tenta fidelizar os seus votantes. O CDS não está na AM e fora dela continua na senda de um contra todos até do próprio partido. Mas quem assiste a uma AM apercebe-se que a vaidade pessoal de certos deputados sobrepõem-se ás próprias “virtudes” da democracia.
Disse-me um deputado do PSD de Óbidos que foi uma vergonha a Sílvia Saramago e o Humberto tentarem incriminar o vereador do PS.
O Silveira Botelho do PSD e chefe da bancada laranja saiu da sala em protesto pelas mentiras insultuosas dos seus camaradas de partido. O PSD de Óbidos ainda se vai partir...
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