domingo, 25 de abril de 2010

36 anos depois…

Hoje, à distância de 36 anos, dou como sábias as palavras que alguém escreveu: "as revoluções são pensadas por idealistas, levadas a cabo por fanáticos e aproveitadas por toda a espécie de oportunistas".

Era o tempo das calças à “boca-de-sino”, dos socos, botas de saltos muito altos e grossos. Dos cigarros “Provisórios” e “Definitivos”, das pastilhas elásticas “Pirata”, dos gelados cheios de corantes a 10 tostões, da gasolina a 2$50, dos gira-discos onde rodavam os vinil de 33 ou 75 rotações. Do “Mundo de Aventuras”, do “Condor”, “Os Cinco” e de tantos outros livros de banda desenhada que acompanharam a nossa meninice, dos cromos de jogadores e cadernetas de colecção. Dos sinaleiros, dos Fiat 600, dos Minis, carros nos stands a 100 contos, da televisão a preto e branco, os putos brincavam na rua como se tudo fosse normal, com os pés descalços nas aldeias, os professores eram respeitados, quando nos aproximávamos de um polícia passávamos para outro passeio, os idosos eram respeitados e considerados …

Até que um dia, nesse já distante 25 de Abril de 1974, ao subir a escadas para o liceu, fomos informados que não haveria aulas… e nada seria como dantes: tudo mudou. Como o tempo fez desaparecer tudo isto também fará por fazer desaparecer a essência da revolução do 25 de Abril. Será mais um feriado como tantos outros que fazem parte do nosso calendário.

A corrupção de outrora aprendeu novas e sagazes formas de se renovar. O poder continua a alimentar aqueles que lhe fazem vénias, a troco de jeitos e outros trejeitos. Hoje, olhamos para o futuro com um sorriso acanhado, receando pelos nossos descendentes, trazidos à luz da vida na esperança de uma outra melhor que a nossa. A democracia transformou-se num instrumento do prolongamento dos interesses corporativos dos que, instalados no poder, não conseguem abdicar dele e dos prazeres que ele proporciona. O uso desse instrumento evoluiu. Hoje é difícil perceber-se, ou melhor, provar-se de forma inequívoca o lado certo da razão. Joga-se com a informação e a contra-informação, como outrora se baralhavam as cartas numa qualquer mesa, numa qualquer taverna. É vulgar vermos o espectáculo circense romano reposto na nossa actualidade, especialmente na televisão, mas não só. Vivemos a era do marketing, onde as imagens se impõem ao poder das palavras e das ideias e dos projectos. Discutem-se ninharias, transformando-as nos falsos problemas de um País que continua, talvez mais que no passado, com a cabeça na guilhotina das finanças. E os reais problemas sempre adiados, porque continuamos década após década com os mesmos fardos às costas. Os exemplos de falta de ética política ou profissional, de favorecimentos pessoais na esfera da actividade pública ou privada, nalguns casos recuperando as tradições da oligarquia clássica, as ofensas para o comum dos trabalhadores com os números conhecidos dos salários de gestores e administradores e outras tantas "dores", revelam a flagrante falta de solidariedade.

Desaparecidas as gerações de 40, 50 e da 1ª metade dos anos 60 nada restará. Os nossos filhos, os nossos netos, terão conhecimento desta revolução através dos livros de escola. As “chaimites” e os capitães de Abril, irão fazer parte daquelas histórias que estudámos desde D. Afonso Henriques. Restará, depois, pouco na memória de cada um consoante a cultura que lhes ficar depois de se esquecerem de tudo o que aprenderam. Mas, enquanto existir um daqueles das gerações que referi, a revolução será sempre contada ao vivo e a cores. Os políticos deste país estão a tentar adormecer a Revolução dos cravos mas, cuidado, deixam-na adormecer devagarinho, não façam barulho, pois pode um dia, de novo, o povo acordar e, Abril voltar... a ser Abril!

11 comentários:

Anónimo disse...

SERÁ QUE O 25 de ABRIL FOI ESQUECIDO EM OBIDOS PELOS SENHORES DOS EVENTOS FALHADOS OU PELA CAMARA NA FALENCIA TECNICA JÁ PROVADA .........!!! ???
É UMA VERGONHA PARA OS OBIDENSES TEREM-SE ESQUECIDO DESTE GRANDE ACONTECIMENTO PARA OS PORTUGUESES!
OU SERÁ QUE QUE CERTOS SENHORES SE SENTEM BEM ASSIM .......???


http://www.youtube.com/watch?v=3wAAEOsphso

http://www.youtube.com/watch?v=o3UDUNBzwp0&feature=related

Anónimo disse...

Vejo que o país 36 anos depois está melhor no sentido em que a liberdade deu autonomia e cultura a um povo ostracizado e ainda inculto por vales e montes do interior. Mas deu sobretudo a possibilidade de sair-mos da cauda da europa em que teimamos, com politicas mais ou menos discutíveis, cair sempre nos mesmos erros que nos conduzem a crises económicas gravíssimas como a que vivemos actualmente.

Se bem me lembro, em 36anos nunca ouvi outra frase que não fosse a de apertar o cinto e poupar. Parece que os tempos são outros e nem as poupanças nos valem um dia que precisemos delas. Portugal caminha claramente para o abismo económico, e quem não quer ver que tape os olhos e aguarde o desenrolar da situação. É possível que a bancarrota não nos atinja mas a pobreza já é visível e será o cenário dos próximos 3 anos prometidos pela UE.

Anónimo disse...

Ele vem AÍ ........!!!

http://www.youtube.com/watch?v=86LSuXi5TLU&feature=related

Anónimo disse...

QUE VERGONHA A CELEBRAÇÃO DO 25 DE ABRIL EM OBIDOS ......!!!


http://www.youtube.com/watch?v=21Vveqd2tXI&feature=related

Anónimo disse...

Houve OBIDENSES que vieram a OBIDOS para vêr as bandas tocar ......!


http://www.youtube.com/watch?v=66I7rYEKkPs

Anónimo disse...

Temos de lutar pela liberdade, tanto hoje como há 36 anos,
Porque num país onde não há Justiça, nem a democracia funciona nem a liberdade é verdadeira. Por isso vivemos numa falsa liberdade, pois para além da falta de justiça, os meios de comunicação ocultam-nos o que mais nos interessa e impingem-nos o que alguns querem!.

Anónimo disse...

Lamentavelmente o 25 de Abril representa hoje para a maioria dos portugueses pouco mais do que um feriado tingido pelo vermelho como cor dominante.
Para aqueles que o festejam, estou em crer que se tratará mais duma marca de que se apropriaram do que um objectivo nobre marcado por uma data no calendário.
À esquerda e à direita vão esgrimindo argumentos mais baseados nas clubites partidárias do que na busca de soluções.
Para mim a dicotomia esquerda versus direita não passa dum profundo disparate. O que importa é buscar soluções que dignifiquem o Ser Humano e garantam a todos condições de vida condignas.
Ensina-me a experiência que nos dois lados da barricada foram cometidas tantas atrocidades e desvios a esse objectivo que melhor seria todos fazerem uma introspecção séria e tentassem viver com o pensamento no presente para podermos vir a ter um futuro minimamente promissor.
O 25 de Abril de 1974 foi uma data importante pois a muitos, entre os quais me incluo, deu a provar algo que até então era um termo vazio: LIBERDADE
Tirando isso (que é obviamente o mais importante) pouco ou nada mais contribui para a minha felicidade.
Bom 25 de Abril para todos.

Anónimo disse...

Mais de três décadas depois, a qualidade de vida melhorou e os portugueses ficaram mais ‘ricos’ e instruídos.(...). É verdade que muito da vida dos Portugueses melhorou, no entanto melhorou no todo para a classe dominante, em especial para os promotores da Revolução, o povo continuou na miséria e sem possibilidades de grande mobilidade social, nunca foram criados instrumentos de Justiça Social e as desigualdades são enormes! É uma vergonha que 36 anos passados, ainda existam dois milhões de pobres, e outros milhares de subsídio-dependentes que de outra forma seriam também considerados pobres.
Para ilustrar, estas facetas da sociedade portuguesa actual, basta verificar o nível salarial dos portugueses, o empobrecimento constante da classe média, e o enriquecimento ilícito das elites políticas e capitalistas. Portugal continua na cauda da Europa, e cada vez mais pobre, 36 anos depois do 25 de Abril de 1974, somos o espelho da vergonha das classes políticas que nos governam.

Anónimo disse...

O Presidente Cavaco que está quase há 20 anos no Poder, e cujos governos semearam muito daquilo que hoje estamos a colher, achou hoje nas comemorações do 25 de Abril que Portugal não desenvolve. Ainda trabalha a platinados e as velas estão húmidas!

Encheu o Palácio de Belém com 1974 cravos, depois de se ter recusado há 4 anos a por um na lapela, e muito depois de ter recusado uma condecoração a Salgueiro Maia, que hoje tentou remediar em nome da História e, porventura, do tempo eleitoral que aí vem.

O 25 de Abril de hoje visto do Céu, na perspectiva de Salgueiro Maia o grande herói do 25 de Abril, deve ter sido uma verdadeira ópera bufa. Vejamos: o derrotado Aguiar-Branco saltou a franga e deu em anarquista citando Rosa Luxemburgo e Lenine, deixando os seus camaradas Louçã e Jerónimo ciumentos intelectuais. O orador do PP usou a dimensão 3D e os outros já não tive pachorra para ouvir.

Mas o que me chocou do pouco que vi foi ver Cavaco Silva mais uma vez aparecer como Deus Nosso Senhor a quem todos veneram incluindo (imagine-se!) o rival Manuel Alegre. Ou as declarações de Alegre foram truncadas pela SIC (e na verdade aquilo pareceu-me muito cortado à faca) ou então até já nada me admira.

O cinismo na política, como na vida, é detestável. Já vimos Cavaco cantar a Grândola Vila Morena numa sua campanha eleitoral, agora assistimos ao discurso demagógico e populista que condena os altos ordenados dos gestores como se fosse aceitável um PR falar do que ganham os privados que pagam impostos e têm a confiança dos accionistas. Este caminho leva ao alimento desse sentimento mesquinho dos portuguesinhos que é a inveja.

Não se pode defender uma sociedade liberal como o cavaquismo defendeu e promoveu até à náusea, e agora vir lavar as mãos como Pilatos. E Alegre acha que foi um bom discurso.O melhor discurso. Bom, o melhor é esquecermos as presidenciais. Ou então estamos perante esta coisa fantástica: Sócrates apoia Cavaco apoiando Alegre, enquanto Soares apoia o médico querendo Cavaco, que concorre contra Alegre que este último já aplaude...

Ainda vamos ver e ouvir lá para o Verão Cavaco citar Lenine e Rosa Luxemburgo, Sócrates a citar Corbusier e o Papa a receber as vítimas da Casa Pia.

Foi para isto o 25 de Abril? Foi. E para muito pior.

Anónimo disse...

O problema é estarmos a "comemorar" e não a "viver" o 25 de Abril...

Anónimo disse...

O nosso País precisa de um choque de liberdade. Não aquela que Abril nos deu, porque essa já está conquistada. Mas a liberdade que deixe os competentes sobreporem-se aos instalados e os eficazes conquistarem o espaço dos protegidos.