quarta-feira, 30 de junho de 2010

UM FÓSFORO

É uma daquelas conquistas da humanidade que mais se usam e à qual, precisamente por se ter tornado banal, quase que não recebe o mérito devido. Se a possibilidade de conseguir o fogo através de uma simples faísca provocada pelo homem é conhecida desde a pré-história, e hoje esta técnica está praticamente esquecida e abandonada desde que se recorreu à faísca piezoeléctrica nos isqueiros. Só a encontramos nos raros isqueiros de pedra.

Este fósforo aparentemente pouco importante, serve-me de introdução precisamente pela sua cabeça. É nesta extremidade que reside o segredo, a sua capacidade de prestar um serviço tão procurado. E hoje é um daqueles dias em que convêm ter a nossa cabeça fresca, livre de nuvens absurdas, pronta para pensamentos e decisões com real importância.

Se está mais do que estudado, analisado, criticado e aplaudido o papel que o desporto de competição aufere no sentir das populações, precisamente por estas depositarem num reduzido grupo de representantes as nossas ânsias e esperanças de destacar, não só pela tão cacarejada vitória mas sim, quanto a mim, aquilo que de facto se lhe atribui mais mérito, que é o de conseguir um lugar de destaque na classificação geral, o deixar de estar na cauda para, enquanto durar, estar no topo.

É um orgulho e uma desilusão, um sentimento de triunfo ou de derrota por transferência, que só a comunicação social, através da exploração dos sentimentos mais imediatos da população, explora a seu benefício. Friamente qualquer um de nós, depois de terminar a gritaria, o estrondoso zurrar das cornetas e o agitar das bandeiras, sabe que estamos exactamente no mesmo lugar, nem pior nem melhor.

Procurar méritos que nos agradem pela cabeça de um treinador, um jogador determinado (num caso concreto parece que as adeptas sonham com uma segunda cabeça, como a multiplicidade da hidra), tem que se tomar com calma. O mais importante, precisamente nesta altura, é melhorar a nossa auto-estima noutros factores e aproveitar esta mudança de foco para contribuir, com o nosso esforço, em sair do marasmo, no qual um sentimento, infundado, de derrota ainda contribuiria para nos afundar.

Virella

2 comentários:

Anónimo disse...

À falta de outros desafios e por acumulação de desaires, penso que não é de menosprezar o peso da precipitação do retorno português de África por mais que estejamos habituados e que fosse expectável.

Estremunhados duma fugaz alucinação consumista e despertos para a cruel e ancestral pobreza a que estamos fadados, há algum tempo que os portugueses se vêm afundando numa crescente perda de auto-estima e descrença. Somos hoje uma triste tribo que se desagrega, subjugada por um discurso desmotivador, sem chama ou transcendência. Triste sina a deste povo sem causa ou bandeira.

Anónimo disse...

O investimento neste Mundial feito pela selecção não justificou, a propaganda também não e as intragáveis vuvuzelas nem se fala...
Mas o pior mesmo foi ver o jogo com Espanhois à mistura e ter que engolir uma derrota quando temos equipa para muito mais e perecemos graças à fraca liderança!
Entretanto a Tugolândia volta ao PEC, aos mercados, às Scuts, às medidas de austeridade e a outros filmes a preto e branco onde poderíamos ser grandiosos a cores, mas devido às lideranças empobrecedoras que temos, fazemos como no Mundial 2010 dizemos adeus e enterramos a cabeça na areia!!!