segunda-feira, 25 de fevereiro de 2008

E você, o que pensa?... MEDITE!

(de um comentário)
Desafio lançado, desafio aceite.
Precisa-se de matéria prima para construir um País
Eduardo Prado Coelho - in Público
A crença geral anterior era de que Santana Lopes não servia, bem como Cavaco, Durão e Guterres. Agora dizemos que Sócrates não serve. E o que vier depois de Sócrates também não servirá para nada. Por isso começo a suspeitar que o problema não está no trapalhão que foi Santana Lopes ou na farsa que é o Sócrates. O problema está em nós. Nós como povo. Nós como matéria prima de um país. Porque pertenço a um país onde a ESPERTEZA é a moeda sempre valorizada, tanto ou mais do que o euro. Um país onde ficar rico da noite para o dia é uma virtude mais apreciada do que formar uma família baseada em valores e respeito aos demais. Pertenço a um país onde, lamentavelmente, os jornais jamais poderão ser vendidos como em outros países, isto é, pondo umas caixas nos passeios onde se paga por um só jornal E SE TIRA UM SÓ JORNAL, DEIXANDO-SE OS DEMAIS ONDE ESTÃO. Pertenço ao país onde as EMPRESAS PRIVADAS são fornecedoras particulares dos seus empregados pouco honestos, que levam para casa, como se fosse correcto, folhas de papel, lápis, canetas, clips e tudo o que possa ser útil para os trabalhos de escola dos filhos ... e para eles mesmos. Pertenço a um país onde as pessoas se sentem espertas porque conseguiram comprar um descodificador falso da TV Cabo, onde se frauda a declaração de IRS para não pagar ou pagar menos impostos. Pertenço a um país onde a falta de pontualidade é um hábito. Onde os directores das empresas não valorizam o capital humano. Onde há pouco interesse pela ecologia, onde as pessoas atiram lixo nas ruas e depois reclamam do governo por não limpar os esgotos. Onde pessoas se queixam que a luz e a água são serviços caros. Onde não existe a cultura pela leitura (onde os nossos jovens dizem que é "muito chato ter que ler") e não há consciência nem memória política, histórica nem económica. Onde os nossos políticos trabalham dois dias por semana para aprovar projectos e leis que só servem para caçar os pobres, arreliar a classe média e beneficiar alguns. Pertenço a um país onde as cartas de condução e as declarações médicas podem ser "compradas", sem se fazer qualquer exame. Um país onde uma pessoa de idade avançada, ou uma mulher com uma criança nos braços, ou um inválido, fica em pé no autocarro, enquanto a pessoa que está sentada finge que dorme para não lhe dar o lugar. Um país no qual a prioridade de passagem é para o carro e não para o peão. Um país onde fazemos muitas coisas erradas, mas estamos sempre a criticar os nossos governantes. Quanto mais analiso os defeitos de Santana Lopes e de Sócrates, melhor me sinto como pessoa, apesar de que ainda ontem corrompi um guarda de trânsito para não ser multado. Quanto mais digo o quanto o Cavaco é culpado, melhor sou eu como português, apesar de que ainda hoje pela manhã explorei um cliente que confiava em mim, o que me ajudou a pagar algumas dívidas. Não. Não. Não. Já basta.Como "matéria prima" de um país, temos muitas coisas boas, mas falta muito para sermos os homens e as mulheres que o nosso país precisa. Esses defeitos, essa "CHICO-ESPERTERTICE PORTUGUESA" congénita, essa desonestidade em pequena escala, que depois cresce e evolui até se converter em casos escandalosos na política, essa falta de qualidade humana, mais do que Santana, Guterres, Cavaco ou Sócrates, é que é real e honestamente má, porque todos eles são portugueses como nós, ELEITOS POR NÓS. Nascidos aqui, não noutra parte... Fico triste. Porque, ainda que Sócrates se fosse embora hoje, o próximo que o suceder terá que continuar a trabalhar com a mesma matéria prima defeituosa que, como povo, somos nós mesmos. E não poderá fazer nada... Não tenho nenhuma garantia de que alguém possa fazer melhor, mas enquanto alguém não sinalizar um caminho destinado a erradicar primeiro os vícios que temos como povo, ninguém servirá. Nem serviu Santana, nem serviu Guterres, não serviu Cavaco, e nem serve Sócrates, nem servirá o que vier. Qual é a alternativa? Precisamos de mais um ditador, para que nos faça cumprir a lei com a força e por meio do terror? Aqui faz falta outra coisa. E enquanto essa "outra coisa" não comece a surgir de baixo para cima, ou de cima para baixo, ou do centro para os lados, ou como queiram, seguiremos igualmente condenados, igualmente estancados....igualmente abusados! É muito bom ser português. Mas quando essa portugalidade autóctone começa a ser um empecilho às nossas possibilidades de desenvolvimento como Nação, então tudo muda... Não esperemos acender uma vela a todos os santos, a ver se nos mandam um Messias. Nós temos que mudar. Um novo governante com os mesmos portugueses nada poderá fazer. Está muito claro... Somos nós que temos que mudar. Sim, creio que isto encaixa muito bem em tudo o que anda a acontecer-nos: desculpamos a mediocridade de programas de televisão nefastos e francamente tolerantes com o fracasso. É a indústria da desculpa e da estupidez. Agora, depois desta mensagem, francamente decidi procurar o responsável, não para o castigar, mas para lhe exigir (sim, exigir) que melhore o seu comportamento e que não se faça de mouco, de desentendido. Sim, decidi procurar o responsável e ESTOU SEGURO DE QUE O ENCONTRAREI QUANDO ME OLHAR NO ESPELHO. AÍ ESTÁ. NÃO PRECISO PROCURÁ-LO NOUTRO LADO.

5 comentários:

Anónimo disse...

Antes do mais agradeço aos Administradores deste Blogue "Óbidos-Made In-2510" o terem gentilmente acedido ao repto que lancei.

Para que não subsistam dúvidas, quero aqui declarar perante todos que tenho muita honra em ser Português, em ser Monárquico e em ser Democrata Cristão.Sou de Direita por convicção,assumo-o descontraídamente (não é doença, embora muitos queiram que se pense que é) e tb não tenho qualquer problema em subscrever quase inteiramente a reflexão deste falecido intelectual de Esquerda, que merece a minha profunda consideração.

Passando ao comentário do artigo, de facto em Portugal existe sem sombra para dúvidas um problema de mentalilidades, de civismo, de ética e também entre outras coisas de facilitismo e impunidade.

Não querendo de modo algum atirar as culpas para o 25 de Abril de 1974,que supostamente nos trouxe a liberdade, entendo que a euforia revolucionária foi de alguma forma responsável por esta mentalidade. Diria que é a mentalidade daquela geração do pós 25 de Abril, que muitas vezes os historiadores designam por "geração rasca",e que é no fundo o espelho da sociedade em que vivemos nos dias de hoje. Atrás disto vem a falta de ética, a "Chico Espertice", o expediente para passar á frente do outro sem respeito pelas regras, a ganancia por chegar ao lugar público para ganhar estatuto pessoal, esquecendo o interesse da comunidade. Tudo isto e muito mais.

Foi apenas o pontapé de saída para o debate, que espero seja decente e que os responsáveis deste magnifico blogue mantenham como têm mantido até aqui a ordem e o respeito.

Cumpts, Carlos Pinto Machado

Anónimo disse...

Concordo, no entanto o problema não reside só em nós…
Genuíno português... para a pobreza e a riqueza, na tristeza e na alegria, até que a morte nos separe!
Então, vejamos: qual é a característica mais forte do português?... Esperteza saloia, mesquinhez,balbúrdia, “burrocracia", inveja, superficialidade, bacoquismo, futebolite, hipocrisia.
A classe politica que nos governa e tem governado, efectivamente, pertence à “geração rasca”. Creio que este País estaria bem melhor sem Santanas, Durões, Guterres e até mesmo sem Cavacos… a mesma interpretação poderá ser extrapolada para o poder local. Todos tiveram responsabilidades políticas e atitudes que em nada contribuíram para a renovação de mentalidades.
Se alguém neste contexto terá culpas são todos aqueles que conduziram este País para a situação em que se encontra actualmente, todos sem excepções: povo e governantes.
E quem sabe tirar partido desta situação… a CLASSE POLITICA.
Para que quereriam eles um país organizado, seguro, planificado, ordeiro: só se fosse para morrerem de tédio… e ficarem sem o “empregozito”

Anónimo disse...

Subscrevo na integra a sua análise (Comentador anónimo das 14:16 de 26/02/2008).

A classe politica tem efectivamente grandes culpas no cartório, pois foram de facto eles que deram o mau exemplo ao povo e o "manipularam" ao seu belo prazer, como de fantoches se tratassem.

Questiono-me muitas vezes, que género de democracia temos no nosso País, pois mais parece que não passa de um mero "teatro de marionetas" ardilosamente orquestrado pelos 2 maiores partidos do espectro politico nacional (PS e PSD)e que estam alternadamente no poder usando e abusando do aparelho do Estado para proveito das suas "clientelas" ?

Fica a sensação que tudo se decide em panelinha entre eles e que o povo burro e ordeiro, que deveria ser soberano, é sim, massivamente manipulado numa democracia de encenação, pura e crua.

Que há a fazer ? É esta a "matéria prima" que temos. Nós os poucos que não somos "cordeiros", que não nos influenciamos nas balelas destas forças politicas alternantes no poder, teremos de continuar a remar contra a maré até que o povo se ilumine e decida partipar, sem se deixar manipular????

Carlos Pinto Machado

Anónimo disse...

Subscrevo na integra a sua análise (Comentador anónimo das 14:16 de 26/02/2008).

A classe politica tem efectivamente grandes culpas no cartório, pois foram de facto eles que deram o mau exemplo ao povo e o "manipularam" ao seu belo prazer, como de fantoches se tratassem.

Questiono-me muitas vezes, que género de democracia temos no nosso País, pois mais parece que não passa de um mero "teatro de marionetas" ardilosamente orquestrado pelos 2 maiores partidos do espectro politico nacional (PS e PSD)e que estam alternadamente no poder usando e abusando do aparelho do Estado para proveito das suas "clientelas" ?

Fica a sensação que tudo se decide em panelinha entre eles e que o povo burro e ordeiro, que deveria ser soberano, é sim, massivamente manipulado numa democracia de encenação, pura e crua.

Que há a fazer ? É esta a "matéria prima" que temos. Nós os poucos que não somos "cordeiros", que não nos influenciamos nas balelas destas forças politicas alternantes no poder, teremos de continuar a remar contra a maré até que o povo se ilumine e decida partipar, sem se deixar manipular????

Carlos Pinto Machado

Anónimo disse...

Vivemos no país da impunidade, da falta de transparência, do tráfico de influências e do "salve-se quem puder". O sistema político está ruído e quem de alguma forma pretende remar contra este sentimento, digamos que, "leva por tabela". É gritante a falta de transparência de todas as organizações e instituições públicas e a promiscuidade pública-privada. Desde o simples atendimento ao público até à decisão final. Recentes casos como o do Casino de Lisboa, Mota-Engil, Portucale, Submarinos e afins, Futebol, Autarcas e Construção Civil entre outros que demonstram o carácter de inimputabilidade com que tanta "gentinha" circula neste país. País de favores, políticos irresponsáveis e com pouco sentido de cidadania, sem escrúpulos e sem valores que se julgam acima da lei, sociedade civil que se acomoda e alheia por completo da democracia e do dever de participação, Instituições de funcionamento obscuro, onde impera a regra do subterfúgio para contornar o procedimento normal com o intuito de se alcançar algo. Vivemos num país onde apenas se considera crime "matar alguém", "violar alguém" ou "infrigir o código da estrada". Tudo o resto é aceite por todos! E mesmo quando somos chamados a participar com o nosso poder de decisão eleitoral, não conseguimos ter um palmo de testa para pensar na responsabilidade que nos está a ser atribuída para decidir sobre quem queremos que nos represente. Estou farto de embustes. Farto de promessas. Farto de Gente que Rouba o Erário Público impunemente. Farto de influências e "cunhas". Farto de Burocratas e Demagogos. Farto dos Direitos Adquiridos. Farto deste País que se vai moldando à imagem de imagens criadas pela comunicação social.


"Política do acaso, política de compadrio, política de expediente. País governado ao acaso, governado por vaidades e por interesses, por especulação e corrupção, por privilégio e influência de camarilha, será possível conservar a sua independência?"


Eça de Queiroz, 1867