quarta-feira, 2 de janeiro de 2008

Onde está a liberdade? Fumador / Não fumador

Para milhares de portugueses acender um cigarro passa a ser um acto proibido em todos os espaços públicos fechados. Locais de trabalho, centros comerciais, recintos de diversão, hotéis, restaurantes, bares e cafés, aeroportos e transportes públicos são alguns dos locais abrangidos. As multas para os prevaricadores ascendem aos 750 euros.
Proteger os cidadãos "da exposição involuntária ao fumo do tabaco” é o objectivo da nova lei, que pretende ainda mais “medidas de redução da procura”.
Posto isto, o que me preocupa é a vaga cultural que aí vem, da imortalidade, da saúde, do health club, da dieta e de um sentimento generalizado de ódio contra o fumador. Ser fumador será invariavelmente, na moral social, ser-se inferior ou, no mínimo, raça degenerada, à espera de ser resgatada do seu ínvio comportamento ou punida pela sua recusa primitiva em ascender à civilização. Ser-se fumador quase que equivale a ser um drogado, um junkie, uma pessoa sem força de vontade, um fraco, um pedaço de lixo, um peso para a sociedade, alguém que vai consumir em contas hospitalares os impostos pagos pelos outros.
Fumar não passará de um acto repugnável, uma falha moral, uma pessoa suja, decadente, nojenta, atentatória do bem-estar da nação, anti-social, em suma: uma pessoa má. O mal terá tomado conta dela, e o mal que passará a habitar nela é um mal perigoso, que poderá contagiar os outros e contribuir para a decadência generalizada da sociedade. Será um mal a extirpar, mais tarde ou mais cedo. Será uma pessoa com comportamentos de risco. E esse problema não será só dela, será dos outros, dos virtuosos (os saudáveis da virtude?), porque o virtuoso não quer o bem do outro, quer é não ter que o ver, quer é que ele não seja.
A partir de agora o fumador será o exemplo negativo a mostrar às crianças, o pária, o andrajoso, o papão.
Já foi o álcool, já foi o sexo, amanhã será outra coisa. A moral vulgar, a moral do estado-nação e a moral médica partilharão a razão das mentes virtuosas, para quem o verdadeiro problema não é – e nunca foi – garantir um equilíbrio de liberdades, garantir o seu direito a estarem em espaços sem fumo. Mentes para quem o verdadeiro problema é estarem rodeadas de sujos imorais. Gente que para lá da absoluta legitimidade de pedir ou exigirem para que não se fume em suas casas ou muito perto delas, não deixará de azucrinar com conversa antitabagista onde e quando quer que seja.
É impressionante ver como a sociedade se encontra completamente amestrada, com as pessoas a dizer todas a mesma coisa mas achando que ainda pensam com a própria cabeça, tendo os jornalistas um papel de destaque nesta moral saudável inquisitória em prol da saúde publica.
Este parece-me ser um ponto de não retorno importante. Os espaços passaram a ser todos vasculháveis, sejam públicos ou não.
Aquela discussão liberal de que as pessoas podem ceder alguma liberdade em troca de outra coisa nem faz muito sentido. Ninguém vê aqui uma perda de liberdade. O que se vê é um certo gozo por isto ser uma vingança sobre os fumadores, esses ogres doentios que precisam de ser exterminados a todo o custo.
Antigamente a PIDE perseguia quem era contra o regime, hoje as POLICIAS / CIDADÃOS irão perseguir os fumadores… não é difícil perceber que o cigarro poderia ser substituído por outra coisa qualquer e abrir-se caminho para uma sociedade totalitária.

14 comentários:

Anónimo disse...

Se somos todos humanos, qual a necessidade de subdividir em fumadores e não fumadores?
Interessante a nossa sociedade, inclusivamente é proibido fumar nas prisões, no entanto é permitido a troca de seringas!

Anónimo disse...

É imperioso colocar cinzeiros nas ruas... só falta rotularem e culparem os fumadores de contribuirem para a imundice e sujidade em que as ruas já se encontram...

Anónimo disse...

Fumar não é para todos!
O fumador comum - o reles e ordinário fumador anónimo - vai para a rua...
O todo poderoso Director da ASAE (chefe da bufaria), foi apanhado a festejar a passagem de ano num casino a fumar e afirmou que não estava a violar a lei.
Pode ler em:
http://diariodigital.sapo.pt/news.asp?id_news=311629

Anónimo disse...

Sou um Não Fumador, que passivamente já fumou camiões de 'fumo', acho a lei fundamentalista, concordo com a opinião, que esta lei, é mais um exemplo de uma campanha ultra-moralista que se tem vindo acentuar nos ultimos anos, e que parece ir continuar, mas em relação ao estigma, acho preferivel ser o Fumador aquele que leva com o estigma, do que o Não Fumador, principalmente com os jovens. Durante anos, e anos não fumar, em muitos grupos de jovens era retrogado, nada 'fixe', e fumar é que era 'porreiro', hoje em dia esta situação continua-se a verificar principalmente nas raparigas, repito a existir um estigma que seja nos Fumadores, apesar da situação ser bastante hipocrita, já que o mesmo Estado que multa, é aquele que promove a venda, ganhando cerca de €2.50 por cada maço !!!

Anónimo disse...

Já aí estão doces, a seguir virão às nossas casas verificar o que comemos o que bebemos e como vivemos.
Quando o presidente da dita ASAE é fotografado a fumar num local público duas horas depois da entrada em vigor da lei, qual é a credibilidade de tudo isto?

Será que vamos viver até aos 300 anos e em plena saúde?
Que tão grande motivo os motiva a cuidar tão ferozmente da nossa saúde fisica abalando-nos a saúde mental?
Quem faz as leis? quem as aplica?
Que formação têm?
Que povo somos nós que assiste pacatamente a tudo isto? à desintegração de uma cultura em nome de coisa nenhuma.

Anónimo disse...

Por acaso sinto-me um pouco incomodado com o fumo do tabaco, possivelmente por ser ex-fumador (deixei o vício há mais de 30 anos...), mas creio que a medida tomada é um pouco (ou mesmo muito...) tocada por alguns excessos...
Verdade também, que certos fumadores desesrespeitavam completamente os seus concidadãos... cheguei a ver algumas vezes em certos restaurantes, mesas de fumadores que não se preocupavam minimamente com o incómodo que provocavam aos outros, mesmo quando por exemplo haviam crianças nas mesas ao lado...
Não sei qual a seria melhor solução...mas acredito que a Lei assim como está...vai ser um foco de conflitos permanente...
Maximino

Anónimo disse...

Estas leis, como várias outras, não deste ou doutro governo.São directivas comunitárias. tentem aprender alguma e perceber o que significa pertencer à UE, no que isso tem de muito bom e de mau. o problema é as leis serem "levadas" à letra, sem se ter entendido a razão das mesmas ou seja o seu "espirito".

Anónimo disse...

Pois é amigo anónimo...nós até compreendemos que fazemos parte da UE...o que alguns não entendemos muito bem é que transcrevendo para Portugal essas directrizes, o façam com "tanta velocidade" e às vezes tão desatentos às nossas realidades numas circunstancias...e esqueçam outras que seriam benéficas para o País, as quais apenas são às vezes implementadas, depois de pressionados durante muito tempo pelas Altas Instancias Comunitárias...
Veja-se por exemplo a transcrição das Leis que a ASAE fiscaliza...e compare-se com algumas de que temos ouvido falar...em Espanha...

Nestas circunstancias da Lei sobre o tabaco...é necesário atender-se aos fumadores ...mas também não podem ser esquecidos os não fumadores...
E depois não se compreende por exemplo que nas prisões se distribuam seringas para os dependentes da droga...e se proíba por exemplo, como se ouve dizer... o uso do tabaco que será uma droga leve, embora prejudicial à saude...

Maximino

Anónimo disse...

A nova lei contra o tabaco ta boa. Quem quer fumar vá ate a rua o os donos dos espaço que arranjem lugar para os fumadores como a lei manda.
Quando a quem diz que os fumadores têm o direito de fumar pois eu acho que tem esse direito mas, agora os outros não tem que levar com o fumo.

Anónimo disse...

Pois é, lá por terras de Sua Magestade, as pessoas que gostam de fumar e as pessoas um pouco mais pesadas irão perder o direito à saúde (serviço nacional)... como o nosso governo é muito sensível a tudo o que se passa pela Europa, pela certa que também irá "importar" esta medida...

Anónimo disse...

Quanto a esta lei, acho-a de um fundamentalismo bacoco, que afastou toda e qualquer tentativa de pedagogia do fumador e favor daquilo que esta maioria melhor sabe fazer. impor, impor, impor sempre!!!

Anónimo disse...

É proibido fumar nos "locais de trabalho". Para efeitos de aplicação da lei, o que deverá entender-se por "local de trabalho"? O artigo 2º, alínea g), explica: "local de trabalho" é "todo o lugar onde o trabalhador se encontra e em que esteja, directa ou indirectamente, sujeito ao controlo do empregador". Se o leitor ou a leitora tem em casa, por exemplo, uma empregada doméstica ou um cozinheiro... nem em casa poderá fumar: a lei não permite. Ridículo? Veja a lei e tente descobrir uma escapatória. Eu não encontrei...
Os deputados que redigiram esta lei, os fumadores e os outros, não regulam bem da cabeça ou não passam de aprendizes de feiticeiro...

Declaração de interesses: sou fumador, mas, no essencial, concordo com os objectivos da lei.

Anónimo disse...

Recentemente foi retirado o cigarro da mítica personagem de banda desenhada Lucky Luke, por poder eventualmente influenciar mentes desprotejidas. Francamente!

Anónimo disse...

A lei tabágica, vai aumentar os óbitos dos fumadores. Não pelo tabaco em si, mas por terem de ir fumar à rua, onde apanham uma pneumonia.